Estava límpido e preciso que aquela criança dormindo junto ao meu peito era suficientemente o necessário para o restar de toda a minha existência.Todas as angústias e medos transformaram-se em um sorriso febril e duradouro.Todos os mal-dizeres e borrões foram apagados por aquele respirar leve e profundo leve e profundo e que não terminava, junto ao peito, ali, e eu olhando para aquele rosto angelical de querubim, tão anjo quanto qualquer outro anjo-rebento que tivesse mais ou menos trinta dias de vida, mas mais anjo para mim, parente de carne e sangue.
Tudo o que eu consegui ouvir dentro daqueles parcos e rápidos momentos era aquele respirar leve e profundo leve e profundo. E nada mais importava. Só não me derramei em lágrimas para que meus
próximos não me vissem em uma situação tão exposta de sentimentos.
Como às vezes sou tolo, na verdade quase sempre. Tinha aquele anjo
em meu peito e pensei que não é necessário somente ter anjos em carne
aos peitos e, sim, anjos-crianças dentro do próprio peito, a todo momento. Carregá-
los como esperança e boas novas em tempos confusos, de clima cinza, e névoa, e
escuridão. O quão aquele pequeno ser pesando em meu tórax fez-me ver que de
detalhes, lágrimas e sorrisos a vida se vale e tornei a pensar o que realmente
queremos dessa mesma vida senão olhar para os seus pequenos e dizer-lhes:
-Durmam aqui em meu peito!
Mas não precisa ser só peito, pode ser colo, pode ser cafuné, pode ser abraço, pode
ser beijo. E o pequeno espaço de tempo transformou-se em horas, em dias, anos,
séculos, história. A eternidade só pode ser alcançada de duas formas: em pequenos
dormindo em seu peito ou em obra. Obra que faz que o nome de quem a criou possa
ser rememorável e vivente para quem a leu, a viu, visitou, vestiu, comeu, bebeu,
sentiu, amou. E tudo isso porque havia uma criança dormindo em meu peito.
Catei os fósforos ao chão.
E nada mais importava.
(para Álvaro)
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
5 comentários:
Bela imagem! Como uma criança no peito!
um lapso e toda a eternidade fica ali à mostra como uma "matrix"! como um micro-momento de iluminação e transcendência = poesia!
;*
Que fofo!
Dá pra ilustrar com fotos do Xuxu!!!
Lembro que li este texto fresquinho...
Muito lindo mesmo.
Alias.....acho que só com uma certa idade é que a gente desperta pra essa magia que a vida tem. Da criança, do inicio, do futuro, do ciclo...
Só agora de velha consigo sentir muita coisa que antes nao encontrava sentido. Dizem que eh instinto maternal.... na verdade acho mesmo que eh estado de madurez.
Essa foto do Álvaro esta linda! As cores....a luz...
Digna de estar em uma cortiça hein Vinicius!!! :)
Pra que fique amassada e encardida com o tempo...
Também me lembro desse texto saído do forno, lindo e singelo como o mesmo Álvaro. Beijo grande, beijo ainda maior no gatinho!
;D
Vini, como é bom ser tolo quando se tem um pequeno ao peito! Nunca sabemos o que somos diante deles... Ou no que eles nos transformam... Sinto essa mesma sensação de eternidade, de infinito, daquilo que durará pra sempre e nunca se esgotará quando penso em minha filha. Amor! Foi com ela que aprendi e aprendo diariamente a exercitar o amor, a entrega... e o limite, claro. E se você se emociona assim com seu sobrinho, imagino o que será de ti quando o pequerrucho chegar pelas bandas desse planeta. Sim, porque no lugar do desejo ele (ou ela) já se encontra... E quando essa criança chegar, chore, querido. E seja o mais tolo dos homens, pois estará frente a frente com a eternidade. Beijos muito grandes pra ti e para o lindo Álvaro.
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