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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O Gato

Sabe aquelas crianças que adoram fazer maldades com bichos, tipo: estripar gatos, apedrejar cães, matar passarinhos...

Meu irmão era uma delas, eu não.

Uma vez vi um gato preto agonizando em plena rua com algumas crianças em volta. Tinham batido e apedrejado o gato, estava morrendo, vi uma pedra grande e falei - "Por favor, matem esse gato, acabem logo com isso" - então deram o golpe fatal, mas o golpe não tinha sido fatal e ele não morreu.

Fui acusado por minha mãe de ser um dos responsáveis por tal maldade, apontado como uma daquelas “crianças-monstros” e obviamente fiquei magoado com aquilo. Mas outra coisa me incomodava mais do que aquela acusação, algo me deixava pesado, havia uma culpa, uma culpa.

Uma vizinha, famosa por adotar bichos de ruas e doentes, viu o que acontecera e cuidou do gato. Fiquei sabendo e de maneira discreta tentei ajudá-la. Peguei meu dinheirinho, juntado de mesadas, e comprei alguns remédios. Todo dia passava na casa dela para saber se o gato estava bem. Os ferimentos eram muito graves, de verdade, mas aos poucos ele melhorava.

Uma semana depois do ocorrido fui à casa de minha vizinha saber do gato preto. Ela me fitou os olhos e disse com um rosto de condescendência que ela (o gato era fêmea) tinha acabado de morrer em seus braços. Chorei copiosamente em sua frente, ela me afagou e disse que tudo bem, que a gata já tinha me perdoado.

Saí em silêncio e fui pra casa, do outro lado da rua.

E naquela noite chorei em minha cama, sobre meu travesseiro, sozinho, chorei feito criança que era. Nunca esqueci disso, nunca disse isso a ninguém.

É... acho que agora já sabem... e naquele momento percebi que podemos todos nos tornar "crianças-monstros", por uma fração de segundos, por uma decisão errada, uma escolha mal feita.

Nunca esqueci e, ainda hoje, peço perdão àquela gatinha negra.


Texto inicialmente postado como comentário no blog Sopros e Farelos, da amiga Daia.



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Licença Creative Commons.

4 comentários:

Anônimo disse...

[sem melodia ou palavra pra nao perder o valor... - na voz de paulinho da viola]
lindo...
;*

Fessora disse...

Saudades da minha magrelinha...

AnaCris Muniz disse...

Você já assistiu ao vídeo "Vida de João", produzido pelo Instituto Promundo? Durante o processo seletivo do SERH, comentei sobre vídeo para falar da socialização masculina. Bom, é só porque tem uma cena bem parecida com essa que você vivenciou... É Vini, eu amo gatos, mas nem sempre foi assim. Na verdade, eu os ignorava. Mas a vida tem dessas coisas - podemos ser monstros, mocinhos, bandidos, vítimas, heróis... Talvez o mais importante seja a nossa capacidade de decidir o que desejamos ser e perdoar as escolhas equivocadas. Olhar pra frente e transformar a experiência vivida, boa ou não, em arte. Como você faz. Beijo!

palavras sobre qualquer coisa disse...

Aninha, mais uma vez obrigado pelos seus olhos cuidadosos com meus textos-filhos, rs.

Sim, você não imagina o quão será amado o(a) rebento(a) que me espera. Sou daqueles que criaria uma criança sozinho, facilmente (pelo menos no quesito vontade). Seria um pai "solteiro", mas acho que poderei usufruir de uma mãe amorosa também.

Entrei no site do Instituto Promundo e achei muito interessante, irei explorá-lo mais, com certeza. Por acaso você tem esse filme? Se tiver por favor grave pra mim ou repasse o link onde o encontrou. Terá muita serventia para meus alunos e aulas futuras. Seus DVD's já estão gravados e te esperando.

Estou com saudades de você e do pessoal SERH. Acho que esse encontro caducou... vou pirar e agitar isso sozinho, só estou esperando tempo hábil para arregaçar as mangas.

Besos.

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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