quinta-feira, 22 de outubro de 2009
pedra bruta
Meu corpo é pedra bruta.
Na verdade bruto eu sou.
Pedra é minha teimosia.
Não quebra.
Fica bruta.
Puta.
As ideias brutas vêm, surgem,
Nascem como pedras,
Virgens,
Minerais,
Misturadas à terra.
Bruta é a vontade de lançar as palavras.
Jogá-las para fora como as pedras que
Chicoteiam a superficie das águas,
Na profundidade do mundo,
No girar infindo.
Esmerilho meus sais sólidos,
Os corto,
Polindo suas arestas,
Dando contornos mais concisos,
À ideia que se presta.
Mas nem todas tornam-se preciosas.
Não é preciso.
Porque precisão não faz parte da vida de quem lhes dá forma.
Precisão só é busca.
A visão do que é lido depende da intersecção do que olha e do que é visto.
O brilho das pedras depende dos olhos que também cintilam.
A função primordial do artista é carregá-las aos bolsos,
Aos montes.
Tê-las em mãos.
Guardá-las por perto.
Porém jogo minhas pedras ao chão,
Ao mar,
E ao ar,
Para que o vento das rimas e prosas as carreguem.
Para quem delas precisar.
Meu coração é pedra bruta,
E é o que somente de mim,
Neste universo infinito,
Provavelmente
Restará.
Pedra
Bruta
Pedra
E
Luta.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
O autor
Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.
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Um comentário:
palavras e pedras são sempre brutas e o coração tb,abraços
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