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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

2014: O ano em que o futebol saiu da minha vida




Certamente você já ouviu as frases: "Eu nunca mais quero saber de futebol" ou "Desisto, não volto mais a este estádio para ver a porcaria deste time". Normalmente as revoltas futebolísticas associam-se aos maus momentos vividos pelos respectivos clubes ou por uma grande falha da arbitragem que afetou o resultado de um campeonato, por exemplo.

Comigo não é diferente. Como botafoguense apaixonado, e oriundo de uma família de alvinegros, o momento atual é simplesmente desesperador, tanto dentro como fora de campo. Acredito que os palmeirenses também sintam este sofrimento. No caso de Botafogo e Palmeiras, e alguns outros gigantes da história do futebol brasileiro, a agonia já vem há anos. Para o Botafogo no mínimo uns... vinte!

Mas este texto não trata somente do desencantamento de um torcedor desiludido com seu clube. Na verdade é muito mais que isso. Minha infância foi permeada pelo futebol, com as brincadeiras na rua, com a zoação sobre ser botafoguense e "sofredor" e ao mesmo tempo comemorar as vitórias e campeonatos que vieram nos anos 90. Minha relação de amizade e amor com meu pai se deu com muitas idas ao Maracanã entre bate papos sobre futebol e a vida. Isto nunca sairá de minha memória e da minha história. Porém com o passar dos anos algo se perdeu, se quebrou na minha relação com este esporte definido e definidor do ethos brasileiro.

Faz um bom tempo que percebo que no futebol brasileiro os resultados esportivos cada vez menos se relacionam com o que acontece DENTRO de campo, quer dizer, da relação entre onze jogadores versus onze jogadores. Desde a descoberta do juiz, um dos principais do campeonato brasileiro à época, que beijava a santinha e depois manipulava os resultados das partidas, não há mais nenhuma maneira de confiar plenamente na arbitragem brasileira, por mais que a mídia tente nos empurrar a certeza que não, que é seguro, goela abaixo.

Porém o desencantamento mencionado acima se tornou mais complexo ao perceber que as grandes mazelas da sociedade brasileira se refletem e se amplificam quando olhamos para a situação do futebol nacional. O grito de indignação por mais direitos iniciados em Junho de 2013 pode e deve ser expandido a todas as práticas sociais do país, e o futebol é uma delas, talvez uma das mais importantes, inclusive.

A necessidade sufocante de mais democracia direta no Estado brasileiro talvez seja menos pior, não muito, se compararmos esta mesma necessidade aos feudos elitistas, conservadores, racistas e segregadores que dominam as cúpulas dos clubes de futebol de hoje e de ontem. Gestões com o pior resultado possível, pois praticamente todos os clubes do futebol brasileiro estão falidos ou quase insolventes economicamente. Como acreditar no futebol brasileiro se a CBF é um antro do que temos de pior como grupo social, com gente que representa, ainda, a ditadura, o autoritarismo, o sectarismo e o desprezo por tudo que se queira democrático e popular. O que dizer sobre o que foi feito com um templo como o Maracanã, transformado em um shopping center com um gramado verde no centro para a classe média ir ver jogos uma vez ao mês, quando estiverem de saco cheio do pay-per-view.

O que falar da nossa Copa do Mundo em 2014, que desalojou centenas de famílias, que priorizou o lucro e os ganhos do grande capital nacional e internacional, além de proporcionar o maior aparato repressivo desde os anos de chumbo, com dezenas de prisões políticas no último dia da Copa e em pleno governo de um partido de... esquerda!? O que dizer de nossa mídia corporativa que controla e manda efetivamente em nossos clubes e campeonatos, com seu poderio econômico e impenetrável regulação pelo poder público, determinando dias e horários de jogos quase sempre contrários às possibilidades de presença do público, mas dentro da lógica do futebol visto pelo sofá. Das preferências e favorecimentos midiáticos escancarados a determinados clubes, e que podem variar de acordo com as conveniências políticas, com o gosto clubístico de um diretor de tv manda-chuva ou com um time de jornalistas que não sabem separar paixão do trabalho.  

Nossa justiça desportiva, representada pelo STJD, é uma piada, onde cada julgamento tem um resultado diferente, de acordo também com o gosto futebolístico dos integrantes do Pleno, com um desfile de egos e projetos de ascensão e reconhecimento para futuro carreirismo nos tribunais de justiça espalhados por aí ou até na projeção de uma carreira política.

Mas aí você pode me provocar: "Mas e se um mecenas chegar ao Botafogo, pagar as dívidas e montar um time galáctico, você não vai torcer?". Sim, seria difícil não torcer. Mas digo que hoje me encontro em um estado de vida que não consigo mais me sentir representado sem poder decidir, ou participar, por minimamente que seja, de algo que também considero "meu" ou "nosso". Porque devo pagar um sócio-torcedor se não posso votar para o corpo político de meu clube? Porque terei um título de sócio-proprietário se a sede do clube é longe de minha casa e sua frequência é elitista, não havendo nenhuma política de aproximação com os torcedores mais distantes.

Talvez essa ruptura seja momentânea, mas realmente a minha antiga e fiel paixão pelo futebol desmoronou. E não me digam para torcer pelo Barcelona ou pelo Bayern. Eu não tenho e nunca terei nenhuma relação afetiva com nenhum desses clubes!

Enfim informo que ando precisando formar um grupo de novos amigos para uma pelada semanal. Quem sabe a semente de um novo-velho amor volte a brotar?

Ando meio triste e cabisbaixo porque no ano de 2014... o futebol deixou a minha vida. 


Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF e atualmente é professor titular em sociologia do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense. 


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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